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Mostrando postagens de agosto, 2022

NO JARDIM COM OLGA

Passaradas em cantiga, Correm ligeiros regatos, Cheiram os frutos do mato, És como eles, amiga. Germinar, estar de volta, Grão ao pó, rebento em flores, Frutos de novos amores, Flores colhendo com Olga!

FUROS

Oh meus amados, busco olhar os teus Olhares perdidos tão sem sentido Dos meus carinhos ouvir de novo Novos vagidos nos teus renovos Filhos nascidos em vós sorrisos Não dêem olvidos aos versos meus. Oh meus amados filhos, por Deus Gerados fostes num tempo alegre Que voltem breve a mim cansado De tanto amar-vos vida tão breve Tanta a saudade não quero ir-me Sem teus abraços, faltando um adeus.

AO ESPELHO

Quando a amada foi embora A outra me olhou à espreita Disse-me o que te estreita O peito então nesta hora? É a saudade que fica No meu peito a toda hora Quero que vá sendo agora Quero que fique e me agita Este amar que é a mim mesmo Que é o desejo de outra Vez abraçar a garota, O meu renovo, oh espelho!

NO CAIS SOLIDÃO

Há muitos vivos já mortos outros há mortos que vivos são almas jarros partidos ficados em trincas postos A viver no mundo à toa a morrer em vida falsa no cais solidão qual balsa atados a popa e proa A espera de ilusão de amor em vão minguado vivo morto no passado barco sem leme timão.

RIO DAS ALMAS

Manso o rio desliza em meandros  Sobre o leito profundo ao estuário É o rio das almas pra sempre caudatário  Do sempre amar, destino ao oceano.  Já foi filete, riacho, cachoeira,  Encantou fontes, nelas chorou, fugiu  Por entre pedras, serpenteou, partiu  Manso o rio ao mar que abraça e beija.

AS RAZÕES E AS EMOÇÕES

o bico de pena, a caneta o fio condutor o desejo o mata borrão, o tinteiro o quadro, as tintas, a honra alheia  em pilha, as almas apenadas cada qual a gemer seus ais em murmúrios, é guerra ou paz é agora, sem depois, mais nada eis aqui os elementos  cada qual componha o drama o comburente, o combustível, a chama as razões e os sentimentos

NO

No imaginário, tuas tetas; no simbólico, Minha língua em versos te lambe, sacia-se. Aos poucos, às apalpadelas psíquicas, No real do corpo, te vejo, caleidoscópico.

CORROSÃO

Estão se indo meus melhores anos De ti distante presente passado Laço de fita futuro escavado No fundo da alma já noutro plano Da indiferença o melhor remédio Pra dor passada a limpo foi sujo O jugo, o joio, o jogo obtuso, Antes distante que o amor tédio De esperar de ti a gratidão De me doar tanto a ti doendo Correndo tu de mim me corroendo Este amor refém de ti, na solidão

ESCARLATE

Uma corda uma barca um porto Os une um fio escarlate Da corda que em extensão faz parte Minha vida com a tua corpo. Um escuro uma velha chama Penetra a barca no escuro Do mar em teu corpo procuro Porto seguro a vela inflama.

NEM NO MAR NEM NA TERRA

Colhi em mares bravios Duas conchas, dentro pérolas. Hoje restam cascos vazios, Sem núcleo, onde estão elas? Será que em colos cintilam? Ou em alianças ou brincos? Por acaso ornam cintos? Ou será que nos céus brilham?

NA ROTA DOS VENTOS

Na rota dos ventos vagueio ao relento, Nas rosas dos prados, desertos, montanhas, Na crista das ondas que quebram, que bramam, Que espumam nas praias, balanço ao vento. Nos mares, nos ares, além no infinito, De estrelas cadentes, de novas que surgem, Em minh’alma carente, eterna, ressurgem Amores, ardores, em versos, em ditos. Acima dos mares profundos, no escuro, Do além, do fundo dos tempos eis que surge Um bem, nova estrela vem logo que urge Brilhar em minh’alma, vem logo, futuro!

PAI CORUJA

A cortina em voil Teu berço todo alvinho O lençol todo arminho Eu teu pai só bacurau De noite te corujando De dia eu tico-tico Não sei se vou ou se fico Ao teu lado só ninando Será te verei já adulta Tu já mãe e eu avô Não, antes eu não me vou, Oh Deus dá-me esta ventura! www.charlesfonseca.blogspot.com

POR TI, MULHER

Foi-se a mulher dos meus sonhos, A primeira que foi amada. Minh'alma ficou devastada, Sonhos novos me são bisonhos. Fui-te fiel no meu gozo, Na tua dor também sofri. Que não te fiz pra o teu ir? Que fiz-te, amor, pro não retorno? Sob as cinzas ainda há brasas, Ainda nelas há fogo até. 'Té o vento frio em lufadas Crepita chamas por ti, mulher!

QUERERES

Eu quero é mais muitos filhos ter Desses que me sejam a própria cara Que qual cachorrinho balancem pra mim o rabo E latindo saltem e se proclamem em versos. Eu quero é mais muito mais pai eu ser, Que seja a lei que liberte meus filhos Meus pobres versos tão ricos de sentido Que me libertam, eles muito mais quero eu ter.

ENFIM

Enfim me acostumei Do pouquinho quase nada Fiz banquete da migalha Do teu amor que provei. Enfim tudo será lucro Quando vieres carente De viés tão sorridente Do teu orgulho em luto. Enfim, um novo começo E eu chegando ao fim Das dores rosa em carmim Do meu amor te ofereço.

MURTA

Curta amada esta murta Como fazes com o amor Que nos une embora a dor ‘Stá presente, ai vida curta, Tão pouca pra grande afeto Que transborda e é oceano Para os nossos a quem amo ‘Té os confins inda há decerto Muito mais a eles dar Quanto menos nos vier Há fartura, é pra quem quer Curtir murta no vagar!

AS CONCHAS

em conclusão, a mim jogou flores  muitas palmas também trevos  pra tocar em meus nervos  ao final só foram dores  pois tudo foi fingimento  se vingança, conseguiu  pra mim esperança sumiu  de redimir, desalento,  uma trava tem sua alma  um argueiro em seus olhos  só ao Trino deixo abrolhos  deve nele haver corais  onde dentro hajam conchas  com pérolas inda tronchas  mas que aos céus brilhem lindas

NA PORTA DA IGREJA

vestida de branco sem véu ou grinalda tecido de cassa brocado a princesa sapatos conforme, quanta lindeza, nela eu via paixão alvorada foi tão linda aquela emoção um frio me dava acima do umbigo ela sorria a mim, nem te ligo em Jequié, um calorão tudo passou na porta da igreja 'está terminado' nem bem começou  por que? abelhudo que sou nada de novo, por ti nem um beijo ai quanta tristeza boiando nos olhos a lágrima de mim cristalina pra que fui amar essa menina? vida que segue, espinhos, abrolhos

ARDENTE

uma pedra preciosa uma alma cheia de afeto descobri risada gostosa eu a perceber o discreto ir e vir de seu corpo seu olhar ao longe perdido e eu a senti num beijo atrevido seus dedos, mãos, o todo clamo aos céus atende esta alma apascenta seu corpo carente é mulher do tipo ardente ai, poeta teu verso te acalma

MULHER DAMA

Eu era quando a vi Só folha na viração Só seixo no aluvião Ela hera a fingir Uma paixão tresloucada Um faz de conta a sorrir Eu mais outro a carpir Saudade do sonho nada. Quando quebrei a redoma Pus no chão em estilhaços A imagem de palhaço E a dela pois que não dama.

PÓS

bolhinha de sabão fru fru criancinha a soprar lindas, leves, levam ar pelos ares o céu azul que pena bolas frágeis me lembram meu eu criança  presente do meu pai esperança  de novo o encontrar outra margem

TIQUINHO

te vi um tiquinho de gente nos braços de tua avó de tua mãe mas não só nos do teu pai toda contente  os teus irmãos sempre em torno  eu teu avô tão feliz da vida ainda sou aprendiz Maria Clara, eu retorno pra te ver mais uma vez  com José, Malu, Mariana, e quem mais vier num talvez  que linda família, vovô te ama!

FURTIVA

não para o tempo não vemos cada vez mais perto a despedida e no entanto é descoberta o que pensamos noutra podemos dizer naquele tempo foi duro tantos poréns, tanto entretanto  quanto riso escondeu pranto quanta lágrima furtiva no escuro!

MUCUGÊ

É tarde, é dia de São João Eis que o telefone toca Ainda hibernando saio da toca Olho o céu e é amplidão Amplio no olhar meu ser para ela Distante está em Mucugê Com os olhos da alma fico a ver A doce amada, chego à janela Não quero seu coração por janela De onde me olha do lado de fora Quero amá-la, ela me sendo porta De sua alma, que eu habite nela.

RESSURREIÇÃO

gastei muito em mármore pouco me sobrou pra campa só porcelanato pra tampa e umas sementes para árvores  a serem plantadas em volta  ipês amarelos, aroeiras, umas florzinhas rasteiras uns dizeres sem revolta  aqui está o que viria a ser à espera da Ressurreição  o corpo só, meus irmãos,  a alma no além em haver

A ILHARGA

sou equestre ando a galope à busca do meu passado  que deixei na estrada ao lado pois foram tantos os golpes como que mordido à espora ai, que dor na minha ilharga no meu corpo tenho a marca presto vou já vou embora

A CAPELA

foi tudo tão desacerto nada a fazer por agora  aqui estou em remora qual barco em cais no conserto ainda não à partida ao largo além do Jordão não quero ir agora não  quero o amar dos que aqui ficam até quando o esfumar das velas  à viração fim do dia suave, que seja sem agonia me levem, a alma a capela

METAMORFOSE

Entrei em metamorfose Larguei a casca já velha Do anseio que foi quimera Foi canga pesada ao cangote. Cifrado o destino estava Sofri querendo primícias Queria do amor as delícias Perfídias ao fim só restava. Aquém, passado obscuro Além, jardim a florar Desejo rosa amar Adeus ao velho casulo.

MARESIA

Disse o velho Gonzaga, O nosso rei do baião, Preferir o assun preto, Lá nas terras do sertão, Ter gaiola por triste sina Se olhar ele pudesse Ver o céu bem lá de cima. Dos meus olhos entre lamentos, Minha sina é teu olhar. Oh, que belo firmamento Que não consigo alcançar! Disse o Conselheiro vidente Que o sertão vai virar mar Que o mar vai virar sertão. Que me resta então na terra? Ir em busca de outra Eva Ou então de outra Maria: Se o sertão vai virar mar, Que cheire a maresia. Se o mar vai virar sertão, Que tenha o olhar verde, então. Que troque comigo carinhos, Abraço apertado, beijinhos. Que qual barco chegue a gemer Das ondas o marulhar. Que gema comigo falando Os tempos do verbo amar!

MADREPÉROLA

Entre a onda e o rochedo por fora é só uma ostra. dura, pétrea como as outras, o seu núcleo é só brilho. Entre a onda e o rochedo, maré alta, fundo ao mar, maré baixa, o luar a beijá-la sem segredo.

LUAR DE IBICUI

Uma amiga me pediu Doce e terna mensagem Que dissesse aos namorados De paixão, do amor voragem.  Pensei, em reprimenda: Escrever por encomenda? O poeta só escreve Se da alma aflora a verve! De imediato respondí: Estou noutro fado agora. Por ora estou a curtir Lua de mel em Ibicuí.

AOS ARCANOS

obrigado por esse invólucro que preparais pros vossos amigos também vale pros inimigos  que por este recebem óbulo por esse invólucro amigo esperais dos vossos os ossos todos ao fim dos colossos jazem seus corpos em jazigos ao fim resta a alma pura livre de volta aos arcanos para a glória dos sem anos eterna, às estrelas, às alturas

LOIRA PRATEADA

Ah, se estivesses aos 50 da tua natividade ou eu aos 40 da minha! Gravitaria em torno de ti em doce elipse. Nem me fundiria em teu esplendor Nem erraria pelo espaço sem fim...

LEMBRANÇAS DO SÃO JOÃO

Nas noites do São João No quarto da lua nova Há uma estrela que chora Pendências do coração Da virgem desenganada Do promotor da paixão Do douto em desilusão Da que foi na enxurrada Do que bebia nas águas Ardentes paixões vazias Ninguém sabe em que bacias Boiavam as suas mágoas Nas noites luares vazios O velho Chico contava Mil contos e provocava Risos soltavam assobios Eram assim os irmãos De contas feito o balaio Mil contas, adeus a Sampaio A Zé, a Lelê, Chico então!

De vez em quando acho que ela é o meu amor. Depois acho que não, já foi. E agora segue seu caminho não há depois. O tempo escorre na ampulheta e há dor.

ITACARÉ

Volte sempre a Itacaré Dizia a nina morena A mim, a minha pequena, Que pena que não dá pé Ficar pra sempre aqui Pra ver as ondas do mar No ir e vir ao luar Por nós, fiquemos aqui. Pós tanto caminho ínvio Oh que saudades que tenho Dos mimos franzo meu cenho Não tenho mais o carinho Da nina estripulia Do doce olhar do meu nino De mim pra eles arrimo De nós, quanta agonia! Agora só restam histórias Dos tempos que já não voltam Da minha vida se soltam. Prisões, saudades, memórias

Há mentiras nos vivos não reveladas, Há verdade escondida nos cemitérios, Há vivas versões de muitos mistérios, Há loucas paixões em castiçais veladas. Há acertos cabais que foram erros, Há os erros confessos não perdoados, Há perdões impossíveis não consumados, Há mortos vivos, vivos mortos em enterros. Há silêncios que falam há gritos roucos, Há cegos videntes há olhares turvos, Há caminhos retos que ao longe são curvos Há carentes de afetos sem eles moucos.

O LEÃO RUGE

é o tempo que me é inimigo  o meu desejo de horas tardas faz-me querer a fêmea à larga de penetrá-la, os seus gemidos  é o tempo o desejo urge deste meu corpo dela o travo o mel o aroma cheiro de cravo de canela, o gozo ruge

GALINHA D'ANGOLA

Galinha ‘tou fraca’ Tu andas saudosa Das terras de Angola. Tu cantas, ‘tou fraca’. 'Tou fraca' encantas Da terra galinhos Pois que um sem carinho Bicou-te em espancas. Fantasmas espantas De galo soturno. Bateu-te ao escuro, Por isso, desandas. Os outros afastas, Ainda o amas! Só ele te encanta. Tu cantas, ‘tou fraca’. Então tu ficaste Sozinha com a prole. É duro, não é mole. Tu choras, tou fraca. Até tua prole O galo malvado Tirou do teu lado, Por isso tu choras. ‘Tou fraca’ tu cantas, Tu queres carinho De galo terninho. Tu choras, ‘tou fraca’. ‘Tou fraca’, agora, Irmãs te amparam. Esquece esse galo, Galinha de Angola!

POR QUE CHORO E SORRIO?

De que sorrio afinal Por que choro se rio Se no amor o desvario Certo é meu bem não meu mal? E se choro por que inda Após tanto amor em volta Não me basta se a revolta De mais amor quero ainda? E se não voltar nem por ódio Ao fácil ninho o perdão Por não pedido então Haverá em mim opróbrio? Se não houver mais nem falso Sorriso ou lágrima furta Fica no ar cheiro de murta, Jasmim, dela, o seu regaço

PAIZINHO

agora resta a tristeza, a saudade de ti tão calmo, sábio, ouvinte muito mais que falante eu pedinte do teu carinho que falta, piedade deste teu pobre filho ausente de ti tanta vez distante por caminhos ínvios adiante e tu à espera tão crente no peito a chama, nos caminhos  o fogo da salvação a arder em ti só o bem querer a mim, teu exemplo paizinho!

Ouves? É o rataplan do bonapartismo caboclo em direção ao paiol da democracia.

ESTRELA D'ALVA

Pra mim não és mais que estrela Cadente no negro universo. Brilhas, mas és só um cometa Fugindo tua luz do meu verso. És como lágrima que rola. Prefiro a estrela d’alva, Bela, que no céu de minh’alma Esmaece minha dor que chora.

EPITÁFIO

Este mundo é mesmo um palco. Pois não é que em certa noite Se encontraram, lado a lado, Mulher a pedir, sorridente, Quero ouvir "Seguindo em frente" Enquanto outra expectante Só, mortiça, a ver navios, Perdida, sem astrolábio, Pedia com o olhar distante: Pois pra mim quero que cante Pro meu desvario "Epitáfio"?

ELES SE FORAM

E ela em seu leito a fenecer E eu a girar mundo aturdido. E nós que ela gerou, de olhar perdido, Sem mais poder até o adeus dizer. Da vida que nos deu se despedia. A morte em seu encalço e ela afundava No sono eterno que a despertava A estar com o Mestre amado, o seu guia. Assim de nós se foi mãe Eroildes, Órfãos ficamos nós com o sábio pai. Dos filhos logo um lhe foi atrás, De nome igual ao pai, foi-se Ataíde.

OS MEUS FARRAPOS

então vieste a chorar enquanto eu ria era tu que chegavas enquanto outros iam e no meio de minha caminhada meu coração partias o ser de mim tu carregavas dos meus farrapos rias

COQUEIRAL

Andei de cidade em cidade de pouso em pouso Aracaju, Floripa em verdade  me deu saudade, ai Salvador subindo por tuas ladeiras descendo ao Porto da Barra Amaralina Iná me agarra Itapoã Nilda faceira Saudade Pá da Baleia amigo o Santos Pereira  o Sampaio rindo da asneira Mirandão, meninico de carneiro me apresentaram a puta não fui com a cara dela a cabana, galinha a cabidela, ai coqueiral da Pituba!

ENTREMENTES

Acho que já escrevi sobre todo o mal, toda a raiva, todo o ressentimento. Foi a salvação pra me libertar de todo espinho vão e seguir no só amar mesmo sem retribuição. Que seja assim daqui pra frente sem virar estátua de sal que me afaste de todo o mal que sei que há entrementes.

DORMIAS

Lá no alto de Ondina Com o vento a farfalhar Coqueiros de beira mar Onde a vista descortina Em meu colo te velava Tu sonhavas, eu sorria. Ondas beijavam a praia, Beijos te dava, dormias

FULGIR

vai, escreve, deixa que vejam o teu verso em verbo ação curte teus proventos não em vão  enquanto os fantasmas a ti festejam aqueles que a ti são reais que a toda hora te arreliam palhaço do circo,  fica em paz ninguém sabe como por ti porfiam em enganar,  em seduzir, à forra mentir em gargarejos a claque aplaude sorri, por dentro chora, vinagre te põem à boca, fulgir!

POEMA TRISTE

bela recordação da aragem daquelas noites silenciosas  dois cães pastor e a minha história  a dar uma guinada ao açoite não do vento era eu só pastores alemães e eu tão triste 21 de outubro desdos em riste dia do apagão jogado ao pó  nunca mais, olhar em frente trinta anos foi ao todo aí contando o de namoro poema triste, estive doente.

A PORTA

Amada minha, é cedo ainda Para partires, não te iludas. Demos um ao outro nossa ajuda, Temos a andar uma senda infinda.  Pros invejosos, demos caluda. Dos mal amados, tenhamos dó. São maldizentes, rastejam ao pó. Pra nós só gozo, amor, ternura.  Aparta o mal, meu bem, não partas. A parte nossa é só prazer. Aporte, unidos, nós vamos ter. A porta fecha, amor, não partas.

DESPETALANDO

Quanto tempo não fui pai Tantos filhos que não tive Afetos que não obtive Minha vida se esvai Como a névoa da manhã Pós a treva como o orvalho Despetala flor do galho Adormece a sorte vã De esperar ao sol poente Já em prata pêlos cãs Acorda a esperança chã De filhos ter novamente Agora porém como netos Meus quem sabe adotivos Vão-se as paixões pelos idos Vêm-me amores tão ternos!

ACAUÃ

Na acauã em seus olhos circunda Faixa negra que vai à cerviz, À cabeça branca lhe segue o verniz Dum pardo dorso que à cauda funda. Mancha clara circunda o pescoço Tem faixas claras na cauda transversas, O branco por base em seu corpo prega A paz que ela nega sangra o dorso Do pobre borrego, caatinga a pastar, Da ovelha marrã que foge da onça, E eu a lhe ver não sei que vingança Traz-lhe no peito, sua vida é matar.

A CARTA

Há uma carta guardada  Outra há foi respondida  Uma há que foi negada  Outra que foi omitida O símbolo assim passeia  De mão em mão à deriva Muito há que ouvir de oitiva Mentiras e até verdadeiras Morrem as coisas se são ditas Sem palavras há fantasmas  Se afundam medram miasmas Mil amas gemem aflitas

A PEDRA

e a mim feriu a vara  eu pedra meio a deserto  um oásis aqui outro ali decerto e jorrou da pedra água  de inicio turva ao pó do meu entorno  depois cristalina é que lembrava a mim menina e o meu nino o meu orgulho novo de mais a mais em torno há vida ainda

AO CÉU

AO CÉU Charles Fonseca Oh saudade do sonho impossível! Oh versos que retratam o inverso do amor sublime! Arrasa-me o peito ter por norte o racional  Mas antes estar no deserto buscando oásis Que ser sugado e cuspido ao final. Oh musa irreal do meu desejo, Oh ser imprudente, leviano e cruel! Cavaste em meu peito cova funda Dela suspiros d’alma sobem ao céu.

CONTAS À BEIRA MAR

CONTAS À BEIRA-MAR Charles Fonseca Reflui a vida ao mar Na vazante da maré Corais afloram a pé Mistérios de Iemanjá Saudades do marinheiro Das contas que ele lhe dá Das vindas dele inteiro Das voltas do lado de lá Assim é a vida na terra Do homem que vem do mar Dela sua falta se encerra Nos ais de Iemanjá Que é mulher vaidosa Que quer receber presente Se reflui maré ausente Vai-se mas volta gostosa Ai, o pobre marinheiro Rico que é de ilusão Faz-lhe versos e então Chora do seu devaneio.

LAMENTOS

LAMENTOS Charles Fonseca   vão-se as horas vão-se os meses os além chegam e se vão por que não os filhos vem chegam netos os filhos vão, vem e passa é o tempo os janeiros e os julho ponho em versos os entulhos ficam à margem os lamentos

SUSPIROS VAGOS

SUSPIROS VAGOS Charles Fonseca No relógio as horas batem, Corre manso o rio das contas Levando no faz de contas Tantas vidas pelas margens! Batem as horas no relógio Na parede do sobrado, Tangem almas no assombrado, Queixas gemem em velório Nas paixões das horas vagas, Vagos amores lá dormem, No peito de amantes sobem, Saudades, suspiros vagos..