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Mostrando postagens de setembro, 2022

A OUTRA

Chorei chorei até não haver mais lágrima em mim  e depois me virei para minha musa assim assim  e sorrí pra ela tão linda sim que a minh'alma se aquietou, meu jasmim minha flor carmim Era a despedida de minha outra musa só eu sabia ninguém mais ela no altar que tenha a paz  pensei vai, mulher, a minha alma confusa haverá de sempre a ti amar a ninguém mais.

SEIXOS

Só o céu por testemunha, Eu e a amada, sós, O vento a empurrar nós, Só nós, a ancora afunda. No mar de emoções, beijos, Barquinha a balançar, céus, Estrelas a brilhar, véus, Conchas, beira mar, seixos.

RUINAS

Para crescer fiz-me pequeno para amar pus-me no exílio pra não chorar de mim sorrio pra nunca mais vivo com menos Do que pensava e nunca fui do que já fui e que não era do que ainda sou mera quimera do que serei o agora rui

LAMPEJOS

Numa noite morna nos encontramos  Junto ao mar azul, cheiro de jasmim,  O amor então nos envolveu enfim,  Cheiro de mar, lufadas de ar, vamos  A caminhar, nós de mãos dadas, beijos  Da lua no mar, nós a olhar, sonhos,  As ondas do mar a balançar como  Nós, ao luar, chamas do amor, lampejos.

ÚLTIMO

existe um componente erótico que de pequeno se avulta cauteloso em ti se insinua e nua a mim recebes eufórica corpos cavernosos túrgidos de espasmos enlouquecidos daqueles que tu em gritos tímidos a ti contorses em gozo último

ATÉ

Uma linda fala da outra, linda sombrancelha arqueada bom estar sob as arcadas  nas tuas retinas ainda que estejas bem distante, mulher  que nunca de perto te veja que só por devaneio almeija este bardo te beijar, até.

PROCISSÃO

Corre lento o São Francisco Lambe as terras que assoreia As margens nuas, areia, Sem matas, ao sacrifício Da morte anunciada Agoniza ele então O pouco que resta vão Querer levar sobre escada Em obra, qual Ramsés, Tornar mais rico empreiteiro Oh meu Deus, salve ligeiro, Dobra o joelho aos teus pés O povo bom do sertão Crente então no São Francisco Noutras eras era pisco Salve o rio, pedem então O bispo com seus irmãos Os protestantes com causa Espíritas, ateus na cauda, Todos pedem em procissão.

PINGO DE AGUARDENTE

Pinga pinga no melaço Pingo gostoso ardente Nas minhas costas dormentes De tanto azougue apanhado. Pinga também em minha face, De tanto apanhar eu choro, Pinga em minha boca, imploro, Pingo do céu, sem disfarce. Pingos de minha face Dos meus olhos afloram, Pingos prateados que choram, Ah, se à Africa voltasse!

OH, MINHA AMADA!

É noite, os pirilampos brilham ouro sobre o negro bailam acima da relva ei-los nas várzeas, muitos, em bandos. É noite de lua cheia doiram em ouro os vagalumes a dança pelos negrumes saudades da musa, eia! Marcha a noite à espreita retalha o clarão da lua sob as árvores bem nua sua imagem a lua beija. É noite. Chega breve a madrugada o amante à musa versa esses versos, ainda é treva onde estás? oh minha amada!

A ROSA ENCARNADA

Comecei minha viagem em Ibicui. Guardei no peito uma rosa chamada saudade. Com que idade levarei de novo já velho essa herdade ao chão? Vem comigo, amiga, me dá tua mão. Levemos juntos na solidão esse amor, esse estar sempre junto, essa plantinha que é só nossa quem sabe de novo possa florir ou não. Vem, mulher amada, companheira desta jornada de trazer no peito também a saudade dos grotões das Minas Gerais ou de onde mais. Vamos ao Canadá de lá trazer esta flor de tua existência, de tua filha querida a saudade compungida, quem sabe na outra vida filha e netos então.

O LENHO

Pôs então ele o cravo na lapela, Branco, e logo o rejeitou, era o sinal De que tudo só era um ritual, Altar das ilusões, coro a capela. Jesus, a alegria dos homens, Bach, Haendel, já no final com o Aleluia, Gozo desigual, não era a hora sua, Dos fantasmas era, a saltar por trás Das ilusões perdidas, era o proscênio, De noiva a brincar que era conúbio Do noivo a sorrir, nega ele tudo, E todos a brindar, sobre ele o lenho.

O CEGO

O cego na rua passava a sorrir E eu na calçada olhava sem graça. O olhar da mulher anunciando desgraça Dizendo, com enfado, como estás eu vou ir. A vista do cego era qual negra noite Mas a sua face era qual luz do dia Sua alma era alegre já a minha carpia A ida da bela sem mais um pernoite. O dia se ia, sozinho eu ficava Olhando as mulheres pra mim todas nuas, Tão perto, distantes, a andar pelas ruas. A minha uma pedra em meu peito deixara.

NOSSOS NATAIS

Ah, natal de Jesus Cristo, Dezembro tão anelado, Dezembro tão adiado, Natal por mim tão querido! Oh, meu janeiro natal, Quanto te espero e te estimo! Faz-me reter o bom vinho, Afasta o fel do meu cálice! Dois mil e dois terminado, Dois mil e três eu espero. No meu natal eu só quero Ainda ela ter ao meu lado. Quantos natais ainda houver A quantos janeiros chegar, Tantos outubros alcançar, Com ela é meu grande mister. Dezembro tão anelado Natal por mim tão querido, Janeiro que quero e estimo, Afasta o fel do meu cálice!

APAIXONADAMENTE

Quando a ti chegarem filhos Como os que a outros vieram Tão carentes ao desamparo E tão fortes se fizeram Que ancestrais os esperem Que não os ponham em trilhos Que os mostrem antiquários Daqueles que te foram novos Campanários que bimbalhem De alegria fogosos Que da vida os afastem Das chaves dos claviculários Com que fechastes as portas Das janelas tirem trancas Que circulem como os ventos Pelas margens das barrancas Dos rios que cata-ventos Girem que movam comportas Daquelas que prendem as águas Que alagam os ribeirinhos Que afugentam os bichos De pêlo os cordeirinhos Que te amem sem ter nichos Que prendem teus pais, sem mágoas.

NOS BRAÇOS TEUS

Oh minha amada que olhos os teus! Oh minha amada que bom ver as nuvens! Ao teu lado sem mais que ter cruzes, sem ter mais crises nos braços teus!

ÀS. MARGENS

Um olhar de amor nós dois uma escuta apurada o aroma do amar-te amada sem ais de dor sem ois assim transcorre entre nós  como um rio caldal plácido sem redemoinhos, acordo tácito, às margens as gentes sós

NOITE DE SÃO JOÃO

https://coletaneacharlesfonseca.blogspot.com/2022/09/noite-de-sao-joao.html

NO QUARTO ESCURO

Madrugada, quatro de julho, Acordo ou inda sonho? No peito bate medonho Meu coração sem o orgulho De ter um filho ao meu lado Em que mundo sonha ele? Está insone? À parede Batem horas no assombrado Relógio parado no tempo O vejo criança ainda Mas já homem ele caminha Para bem longe, ao relento Fica minha alma de pai Declaro eu sem o orgulho Madrugada, quatro de julho, Saudade em mim não se esvai.