A ESFINGE

A ESFINGE

Charles Fonseca


Freud teria dito que não sabia o que queria uma mulher. Um seu seguidor que anda zanzando a alma por aí disse que a mulher não existe. Já vi pára choque de caminhão dizendo a mesma coisa. Misteriosa mulher. Mítica figura. Tu ao longe pétrea a zombar do homem Édipo que para vir a ser teve que matar o pai e casar com a mãe. Terminou cego. E eu a usar preventivamente meu colírio para não ver somente a ti, pétrea musa, mitológica estátua, como todo o meu real. De ti tenho medo, de ti fico distante, pra ti o meu olhar, a minha incontinência literária, casado com a poesia e, no entanto, longe das peias do metro, da rima, do estribilho, por estas letras quero ver-te nua de mistério a não me devorar, eu daqui e tu de lá. Eu, um pobre viajor sedento à procura de oásis e tu à beira do caminho, distante, intocável, inderretível, misteriosa, esboço de sorriso no olhar. De ti faço arrodeio, nem te olho, faço que não te vejo, eu quero o mar, minha fronteira, eu quero penetrar em suas águas mornas, cheirar os seus sargaços, tocar as suas fímbrias. E tu a me olhar.

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